sábado, 20 de agosto de 2022

Meditação - Mahakala Chintamani : A Joia da abundância

       

                                                     



    Os recursos iconográficos  tibetanos  identificam 75 formas de Mahakala, uma dinvidade coroada que zela pelo caminho budista da sabedoria e da compaixão. Certas manifestações  da Mahakala possui uma cabeça de yak ou de corvo; outras cavalgam um tigre ou um cavalo negro. Sobre esse tanka ( pergaminho pintado tibetano), Mahakala se manifesta com um rato feroz qualificado como guardião  da riqueza e da prosperidade, segurando em frente ao seu peito um chintamani em chamas, uma "joia que satisfaz os desejos". Na mitologia budista, o chintamani, seria como a satisfação  das esperanças terrestres, designa sobretudo a joia da consciência  desperta que existe em todos os seres. Na galeria da visão  liberada, a forma branca de Mahakala aparece em um nimbus (certo tipo de nuvem) de fogo e de luzes cor de arco-íris, nos incentivando a reconhecer além da noção  trivial de acumulação, a abundância onipresente.

        Mahakala Chintamani pisa os símbolos  da riqueza terrestre,  que são  Ganapati a cabeça de elefante e  o seu servo o rato. Esse rato é frequentemente representado praticamente transbordando em alegria, o que indica que nós terminamos perdendo tudo aquilo que nós  buscamos conquistar. Tais formas celestes são representadas por processos interiores, assim como os meios de transformá-las.  Na sua qualidade de símbolo  de abundância absoluta, Mahakala Chintamani revela os segredos da alquimia budista: a riqueza autêntica é recebida praticando a generosidade, e  a visão compassiva nos libera dos apegos que nos aprisionam. Doando tudo aquilo que nós  fazemos - materialmente, mentalmente e espiritualmente - nós  nascemos novamente na terra do Buda, da vasta abundância, livres da avareza e do medo ( Em outras palvras, o trecho acima se refere ao DESAPEGO). 

       Tendo renunciado à sua habitual pele de tigre em preferência às vestimentas de sedas ondulantes, Mahakala carrega na sua mão inferior esquerda uma tigela craniana contendo o vaso de ouro (kalasa ) de Kubera, outra divindade associada à riqueza. Na mão  superior direita, ele possui um kartrika curvado, que corta as raízes do apego. Na sua mão superior esquerda, ele tem um tridente no lugar do nó apresentado na iconografia tradicional, sendo esse um outro símbolo  da armadilha materialista.

     Todas as riquezas materiais que nós  acumulamos são abandonadas no momento da morte. Somente a riqueza espiritual acumulada nos beneficia no mundo transitório  das visões  celestes. As manifestações das dimensões mais profundas da mente podem parecer tenebrosas no primeiro momento, mas quando elas são  reconhecidas como estado de reflexos de regiões  inexploradas da psique, elas proporcionam uma liberação  completa da nossa escravidão aos apegos materiais e emocionais. Como o coração  despertados dos budas, o universo se dá  de maneira desinteressada. Se nós  nos rendemos  à sua implacável compaixão  podemos nos transformamos em herdeiros  involuntários  da abundância do mundo. O segredo está  em SOLTAR...


"Assim que você buscar a prosperidade para toda a humanidade, o reinado de Mahakala Chintamani se abrirá  diante de vocês; oferecendo abundância de felicidade satisfazendo seus desejos. Quando você busca a riqueza somente para você mesmo(a), você afronta todos os outros seres humanos." Romio Shrestha


Glossário 


Buda: Ser desperto, ou iluminado, aquele ou aquela que espera a soma da evolução  desenvolvendo sua sabedoria e sua compaixão  durante incontáveis existências, até que elas se tornem perfeitas. A sabedoria é perfeita quando ela conhece todas as coisas, e a compaixão é perfeita quando ela libera todos os seres.

Rato: Conforme o dicionário dos símbolos, o rato simboliza avarezaganânciaroubo, impureza, além de ser uma criatura temívelAo mesmo tempo representa inteligênciahabilidadefertilidade e abundânciaNo Japão simboliza fecundidade e é comparado ao deus da riqueza, Daikoku. 

No Oriente, os ratos simbolizam diversas áreas das relações humanas, podendo estar associado a virtudes ou a defeitos. Na China, o rato representa fertilidade devido à quantidade imensa de filhotes que uma mesma fêmea pode dar à luz durante um ano. Além disso, o rato é sinal de esperteza, fofura e inteligência.

Em períodos antigos, o rato era cultuado na China como uma divindade capaz de trazer sucesso e prosperidade para as pessoas. No horóscopo chinês, ele é um dos signos do zodíaco, mostrando uma pessoa criativa e que pode se adaptar facilmente às diversas circunstâncias da vida. N
a Sibéria o rato apresenta a mesma simbologia, tem conexão com abundância prosperidade.

No Hinduísmo, o rato, também chamado de Mushika ou Akhu, é o símbolo do ego e representa a mente com os seus desejos, seu orgulho e seu individualismo. O deus com cabeça de elefante, Ganesha, é comumente representado em cima de um rato justamente para representar o ego que foi conquistado e dominado.

Ganesha é o senhor do intelecto e, por isso, esta figura lembra que uma pessoa intelectual deve se manter sob controle, não deixando o seu ego interferir na clareza da mente, especialmente na tomada de decisões.

  Para a mitologia grega, o rato era visto como um animal sagrado devido à sua habilidade de se adaptar às diferentes condições de vida. Além disso, ele era usado para compreender o clima, já que o seu aparecimento geralmente previa certas condições climáticas. Na Ilíada, um épico grego, existem referências ao rato como um símbolo do deus Apolo.

A associação dos ratos com Apolo ocorrem porque o deus, quando estava de mau humor, lançava uma praga com estes animais para destruir as plantações como uma forma de punição.

Em se tratadando da sua representação espiritual:

Em alguns lugares da Europa Medieval o rato simboliza o contato com o divino. Como uma criatura vinda do submundo, noturna e que possui uma forte ligação com o solo, acreditava-se que ele era um mediador entre a vida física e a espiritual.

Algumas histórias contam que os ratos dispõem da capacidade de carregar almas de humanos que deixaram o mundo físico, para levá-las ao mundo espiritual.

Em algumas tribos africanas, espiritualistas ou pessoas com o dom da profecia usavam o rato como um descobridor de fortunas, pois o roedor simboliza uma ligação com o plano espiritual, por viveram tão próximos do solo teriam um relacionamento íntimo com os espíritos da terra e ancestrais.



Fontes:

https://www.dicionariodesimbolos.com.br/rato/

https://sonhoastral.com/articles/4476

sábado, 13 de agosto de 2022

Meditação - Mandala Tibetana: O Paraíso do Buda Medicinal

                                O paraíso  do Buda Medicinal


                        

    Ao longo da sua história, o budismo desenvolveu uma rica tradição  de artes de cura para restabelecer o equilíbrio  do corpo, da mente e da alma. Esse "paraíso  do buda Medicinal" foi representado pela primeira vez em 1687 por Desi Sangye Gyamtso, o regente do quinto Dalaï-Lama, para ilustrar as origens e as práticas  da ciência medicinal tibetana. Sentado ao centro de um paraíso celeste se encontra o Buda sobre a forma de Bhaisajyaguru, o "mestre dos remédios". Em torno dele se encontra os inúmeros deuses, sábios e outros exautados, dos quais alguns aparecem dormindo à noite embaixo de cobertas de folhas, e durante o dia se apresentam vestidos apenas de um simples manto. Na parte exterior dos muros do palácio, ornamentados de joias precisosas, encontram-se as plantas aromáticas e medicinais da farmacopéia tibetana. No alto da imagem, à esquerda, homens e mulheres se banham nas fontes medicinais repletas de formações rochosas estilizadas. No topo da respectiva mandala, é possivel observar montanhas cobertas de neves, e nos demais lados, várias variedades de plantas medicinais. O Buda Medicinal possui na sua mão  direita um pote com mirobâlano, a rainha das ervas medicinais, que a tradição  tibetana considera como uma panaceia (medicamento cujas propriedades podem curar todos os males). No budismo, todavia, os medicamentos externos não  passam de uma mera aplicação  limitada. O único  remédio para curar a doença fundamental da humanidade (a falta de atenção dada à verdadeira natureza do ser e da realidade)  é a espiritualidade; não  podendo essa ser alcançada por meio das plantas e medicamentos, mas sim pela intuição profunda e transcedental da condição humana. O corpo na cor azul-céu  do " mestre dos remédios " indica sua natureza última de consciência que engloba tudo "a imagem do céu ". Identificando-se com a sua natureza intrínseca, o terapeuta tibetano desenvolve os poderes da intuição  e da consciência permeável, que são cruciais para curar os outros assim como a si mesmo.
      Curar, significa reestabelecer  a completude/totalidade/integridade, restaurar a sabedoria, o equilíbrio  e a estabilidade. O paraíso  do Buda Medicinal representa o universo idealizado onde os remédios  existem para sanar não  importa que tipo de doença. O próprio buda declarou: " Independentemente da quantidade numerosa de seres sensíveis neste mundo, para cada um desses existe um caminho em direção à libertação." No budismo, a arte de ser você mesmo(a) é um desses caminhos/ um desses remédios, que nos ensina a ver o mundo e nós mesmos de um outro jeito, com 'novos olhos'. As pinturas da Galeria Celeste são auxílios pedagógicos e meditativos. Contemplando o Paraíso do Buda Medicinal, nossa maneira de ver  se libera das percepções habituais. Se nós nos direcionamos ao mundo sem ideias pré-concebidas, nós podemos aprender a ver tudo de maneira integrada como um paraíso  celeste.
    

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Meditando por meio da mandala tibetana que representa a INSEPARABILIDADE

                                     Mandala: UMA VISÃO  DA INSEPARABILIDADE


                                           

                                                 

     As mandalas concentram a mente sobre o princípio  unificador ao coração  de toda existência. O  Sri Yantra apresentado no centro da mandala, apresentada acima, é um símbolo  muito antigo que ilustra a interpenetração dos opostos: o vazio e a forma, o espírito e a matéria, o masculino e o feminino. Tal yantra  (literalmente, un 'aparelho') cultiva a consciência das forças infinitamente criadoras  e interpenetrantes das quais cada um de nós faze parte.

    No simbolismo tântrico hinduísta, o elemento vermelho do yantra se baseia na cor do sangue menstrual, e representa o princípio  feminino da encarnação. O elemento branco representa o princípio  masculino da energia transcendente, a descendência  da criação. Universalmente aplicável, o Sri Yantra, o 'glorioso aparelho', nos recentraliza no reconhecimento desta unidade primordial - um equilíbrio dinâmico radiante no coração de toda existência. A tradição hinduísta ilustra esse princípio cósmico por meio de um ajuste geométrico dos elementos. O budismo tântrico o personifica sobre a forma de Samantabhadra, o buda 'todo - benevolente', que é representado no topo do quadro ( a mandala representada acima) em união  com sua  consorte/companheira Samantabhadri , encarnação  do vazio primordial. À  direita e à esquerda se encontram as dinvidades meditativas tântricas Guhyasamaja e Cakrasamvara.

   Essas representações da integração  dissipam a ilusão  de separação  e de alienação  que atormentam a existência humana. Essas imagens, caso sejam contempladas profundamente, unificam tudo aquilo que frequentemente  permanece disjunto, separado das forças que sustentam a vida universal. Os budas se manifestam nas posturas de união  cósmica. Algumas são  estáticas, outras são pacíficas, outras coroadas. Algumas possuem uma anatomia normal, outras apresentam uma multitude de braços e de pernas, simbolizando as capacidades aumentadas do estado de liberdade.

  Mais que todas as outras mandalas presentes na Galeria Celeste,  esse tanka é o exemplo de uma ruptura audaciosa com a iconografia tradicional. Colocando um yantra  hindu no centro de uma mandala budista, a obra evidencia a unidade dos temas entre as duas religiões. É  interessante observar, todavia, que o Tantra hinduísta considera o princípio  feminino como a Shakti, a força animadora do princípio  masculino incarnado por Shiva. No Tantra budista, o simbolismo é invertido: as formas femininas representam a sabedoria e o espaço primordial, a cena na qual o princípio  masculino  ativo exprime sua energia e sua compaixão.

  Esse cosmo de forças se interpenetram e se moldam em partes para nossas concepções,  não havendo limites a não  ser os impostos por nós mesmos. No centro do Sri Yantra, no ponto imóvel  das energias  entrelaçadas pelo nosso ser essencial, nós  somos indissoluvelmente  conectados à toda existência, e nossa alienação  não  é mais que uma ilusão  egoísta e autodestruidora.


*A imagem  da mandala, mencionada nesse artigo, também está disponível no Instagram.