Comumentemente chamada "Roda da Vida", esta imagem clássica da tradição budista tibetana retrata as etapas psicológicas, ou reinados da existência, associadas ao estado não despertado. Espelho impulsionador para os aspirantes espirituais, a roda da existência iludida é geralmente pintada à esquerda da porta de entrada dos monastérios tibétanos; ela oferece aos monges como aos pelegrinos a ocasião de contemplar as profundezas dos seus seres essenciais.
No centro da madala, as imagens intrelaçadas de um porco, de um galo e de uma serpente representam simbolicamente a ignorância, a ganância e a agressão, que caracterizam os mundos de sofrimento e de insatisfação que os budas nomeiam de samsâra.
Ao redor da esfera central estão apresentados seres a caminho da evolução espiritual: uma fina corda dourada os conduzem além das profundezas do tempo e da transmigração até o reinado celeste dos budas. À direita, seres devorados pelas dolorosas paixões descem em direção aos reinados da insatisfação suprema - a dimensão dos espíritos famintos e de seres infernais, torturados nas torrentes congeladas e de brasas ardentes. Na parte de baixo da mandala, observa-se o inferno, o reinado do instinto animal e à esquerda, sobre o reinado Asura da inveja perpétua. No topo da mandala se encontra o paraíso efêmero de deuses, caracterizados pela auto-satisfação espiritual. Sobre esse falso paraíso se situa o reino humano, o qual, de um ponto de vista budista, oferece a mistura otimizada do prazer e da dor que motiva a se engajar no caminho espiritual. Em cada reinado, um buda se mantém no meio de um turbilhão de nuvens, significando que cada situação da vida, por mais horrível seja, contém a possibilidade de um olhar libertador sobre a nossa verdadeira condição.
A roda da existência iludida é mantida pelas unhas afiadas de Mara, representada nesse caso como um demônio com dentes afiados, coroado por crânios da impermanência e drapeado de chamas e de uma pele de tigre . A roda da doutrina budista figurada sobre seus pés e o olho vertical da sabedoria inscrita sobre sua fonte, indica que os ciclos do tempo não são simples ilusões, mas sim a realidade inevitável da nossa existência relativa.
Sempre que negligenciamos a passagem do tempo e os desafios colocados pelo caminho do desenvolvimento espiritual, nós somos como esses esqueletos no ângulo inferior à esquerda do tanka (imagem), estragando nossa vida no jogo incessante das distrações ou, como ilustrado à direita, nos esforçamos em vão em combater aquilo que nao passa do nosso próprio reflexo. Aos pés do espelho celeste se encontra o deus da riqueza, Vaisravana, sentado sobre um leão de neve. Na roda da existência, tudo aquilo que é acumulado é finalmente perdido - tudo, exceto a sabedoria sobre a realidade das coisas. Essas pérolas sem preço se transforma em uma abundância de alegria satisfazendo as vontades - essas são as riquezas mais profundas do coração despertado.
'Enquanto nossas ações forem dominadas pela cólera, a ignorância e o orgulho, nós nos perdemos em um mundo de ilusões, girando em um ciclo sem fim o qual não podemos nos escapar. ' Romio Shrestha
Glossário :
Samsâra: "existência ciclica", "círculo vicioso" ou "roda" do nascimento, da morte e do renascimento no seio de seis reinos de existência, caracterizados pelo sofrimento, pela ignorância e pela impermanência. O estado dos seres sensíveis, comuns, travados pela ignorância e pela percepção dualista, o karma e as emoçõespertubadoras. O não despertar.